terça-feira, 15 de outubro de 2013
Fábulas Pornomorfológicas (I)
Certa manhã de janeiro de 2009, na fazenda Dicionário...
— Ei! Cadê meus hifens? — perguntou o bumba meu boi.
— O novo Acordo Ortográfico mandou recolher tudo... também fiquei sem nada — disse o pé de moleque.
— Mas que abuso... Isso sim é o que eu chamo de lesa-ortografia! Mas já dou um jeito nisso... — e saiu à cata de pronomes pessoais. Não demorou muito pra se esbarrar com um tezinho:
— Ei, pronominho, vem cá... Tá vendo aquele verbo “darei” ali? Tá ali, só no futuro do presente, te dando mó mole! Tá esperando o quê, tezinho? Vai lá, rapaz, faz mesóclise com ele!
O pronome não pensou duas vezes: partiu pro bote e se enfiou bem no meio do verbo, formando um “dar-te-ei”. Era tudo de que bumba meu boi precisava:
— Que tal rolar uma próclise agora? Hummm... Mandou bem, hein, pronominho? Ficou bem assim. Bom, vou aproveitar e levar esses hifens, ok? Com a crise da Reforma, tem muita locução carente por aí precisando disso aqui.
E assim o bumba-meu-boi se mandou, vestido e feliz, com sua antiga ortografia.
Moral da história: “Em terra de reforma ortográfica, quem tem um hífen é rei”.
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